Dra. Luciane, médica nefrologista e coord. dos Transplantes na Pró-Rim
Muitos pacientes renais crônicos tem dúvidas sobre o transplante renal, por isso, convidamos a médica nefrologista e também Coordenadora dos Transplantes da Pró-Rim, Dra. Luciane Deboni para responder alguns questionamentos. “Diferente do que a maioria da população renal crônica pensa, o transplante não é considerado a cura, mas sim, um tratamento. Afinal, o paciente terá de fazer uso de medicamentos pelo resto da vida”, comenta inicialmente a médica.
Ela adverte que o transplante pode ter a rejeição do órgão a qualquer momento, mas geralmente o rim transplantado pode durar muitos anos, em média 15 anos. Existem registros de pacientes transplantados há mais de 30 anos. Um destes pacientes é o senhor Osmar Muller que completou três décadas de transplante em 2020. “Tem que ser muito rigoroso para manter a saúde, cuidar da alimentação, tomar os medicamentos certinho e seguir todas as recomendações médicas”, explica o paciente. Você pode ler a história de Osmar aqui.
A Dra. Luciane responde dúvidas sobre medicamentos, rejeição, gravidez, qualidade de vida do transplante, entre outros temas. Confira a seguir a entrevista:
O TRANSPLANTE RENAL É A CURA PERMANENTE?
Dra. Luciane – O transplante não significa cura permanente. É uma das opções de tratamento do doente renal crônico, assim como a diálise peritoneal e a hemodiálise. É uma terapia renal substitutiva, ou seja, uma forma de substituir a função do rim. Por ser um tratamento, tem os seus cuidados monitorados no pós-transplante ao longo dos anos, com o uso de medicamentos de forma contínua.
ESSES MEDICAMENTOS SERÃO USADOS PELO RESTO DA VIDA?
Dra. Luciane – Certamente, mas é possível que eles sejam reduzidos ao longo do tempo. Sempre vai haver a necessidade da medicação de uso contínuo, de controles periódicos e consultas. Ou seja, o paciente troca o procedimento da hemodiálise, três vezes por semana, durante quatro horas, por um tratamento na clínica a cada dois meses para fazer exames de sangue e tomar a medicação em casa. A grande diferença do transplante é que a qualidade de vida passa a ser muito melhor.
Aderson mostrando suas conquistas.
TRANSPLANTADO PODE LEVAR A VIDA NORMALMENTE?
Dra. Luciane – A ideia do transplante é justamente restaurar a qualidade de vida do paciente para que ele volte a ter uma vida plena de produtividade como estudar, trabalhar e viajar. Mesmo assim, ele vai depender sempre de cuidados médicos. O transplantado deve procurar ter uma vida saudável, com atividades físicas, boa alimentação e sempre enfatizando a necessidade do controle periódico pelo médico e uso da medicação correta.
QUAL O MOMENTO MAIS DELICADO PARA A REJEIÇÃO DO RIM?
Dra. Luciane – A rejeição sempre é uma preocupação, afinal o rim transplantado não é do paciente. O organismo, pela sua natureza, vai tentar rejeitar o órgão que não lhe pertence. A rejeição é mais intensa e perigosa nos primeiros três meses do transplante, mas a gente sabe que ela pode acontecer a qualquer momento, principalmente se a medicação não é usada adequadamente. Mesmo tardiamente, depois de cinco, dez ou vinte anos, se o paciente não usar a medicação de forma adequada, o rim pode apresentar um episódio de rejeição tardia.
Álvaro completou 30 anos de transplante renal em 2018.
POR QUANTOS ANOS SE MANTÊM UM RIM TRANSPLANTADO?
Dra. Luciane – A vida média de um rim transplantado fica em torno de 15 anos. No entanto, essa expectativa tem aumentado progressivamente. A sobrevida era bem menor quando começou a era dos transplantes, lá em 1954, com o primeiro procedimento intervivos. Com a evolução dos imunossupressores, a melhoria das medicações e o controle dos pacientes, além do entendimento do processo de rejeição, essa sobrevida aumentou consideravelmente. A gente nunca sabe exatamente quanto tempo esse rim pode durar. Vai depender muito dos cuidados do paciente, se vai ocorrer ou não rejeição, ou alguma infecção.
ALÉM DA REJEIÇÃO, O QUE MAIS REPRESENTA RISCO?
Dra. Luciane – É importante dizer que não é só a rejeição que assusta o paciente transplantado. O próprio tratamento para evitar a rejeição, a imunossupressão, ou seja, o uso de medicamentos que vão diminuir as defesas orgânicas desse paciente, também representa risco. Precisa haver um equilíbrio, porque a diminuição das defesas não é especifica para o transplante. A medicação também afeta as defesas como um todo.
Ou seja, aumenta o risco de infecções, especialmente com o que a gente chama de infecções oportunistas, que são bactérias e vírus que em uma pessoa saudável não causariam nenhuma doença, porém, no transplantado, pode ser fatal. Por isso, a necessidade do acompanhamento periódico e da medicação ajustada. O desafio da medicação do transplante é manter esse equilíbrio no ponto ideal para o órgão não ser rejeitado e o suficiente para evitar infecções. Por isso que os médicos dizem que o transplante não é cura e sim um tratamento.
QUAL A EVOLUÇÃO DA MEDICINA EM RELAÇÃO AOS TRANSPLANTES?
Dra. Luciane – O transplante é considerado o grande procedimento médico do século 20, porque ele realmente desafia a natureza. Nós criamos um organismo que não existe normalmente na natureza: um corpo que recebe órgãos de outro corpo. Isso tem evoluído muito nos últimos anos. Para melhorar esses números há uma margem muito pequena em meio a tantas pesquisas. É que nos últimos 10 anos, poucas drogas novas conseguiram ser melhores que as existentes.
O ÍNDICE DE SUCESSO DOS TRANSPLANTES CONTINUA ALTO?
Dra. Luciane – O sucesso do transplante é elevado. Segundo as estatísticas, em cada 10 transplantes, nove vão dar certo. Os 10% desse insucesso não são tanto por rejeição, mas inerentes aos procedimentos cirúrgicos, como infecções e complicações do procedimento em si. A taxa de sucesso de 90% é universal. Não existe local no mundo com 100% de sucesso. Como qualquer procedimento médico há riscos inerentes.
Nathalia com o pequeno Daniel.
É POSSÍVEL ENGRAVIDAR DEPOIS DO TRANSPLANTE?
Dra. Luciane – Possível é, mas entre o poder e o dever existe uma grande diferença. Depende muito da situação clínica da paciente, por exemplo: em quanto está a creatinina, se ela teve rejeição ou infecção, entre outros fatores. É preciso pensar sempre que a gravidez é uma sobrecarga ao organismo de qualquer mulher. Mesmo para uma mulher que engravida com os dois rins saudáveis, eles acabam trabalhando pela mãe e também pelo bebê. E a mulher transplantada tem um rim só e isso exige uma sobrecarga ainda maior neste rim. Por isso, deve haver uma avaliação criteriosa se esta gravidez deve ou não ser estimulada.
Atualizado em 28/12/2021
Comunicação – Fundação Pró-Rim
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