Ideraldo Luiz Marcos viu na atividade esportiva uma paixão e ao mesmo tempo um meio de ascensão para melhorar de vida. Então, migrou para o esporte. “Estou no universo esportivo há 47 anos. Não fiquei rico, mas tive uma vida digna e fui muito feliz neste período”, avalia Ideraldo.
“Conheci lugares, pessoas e me realizei profissionalmente fazendo o que mais gosto”, recorda. No ano passado, a vida lhe mostrou um cartão amarelo. Os seus rins deixaram de funcionar e desde então ele faz tratamento por hemodiálise. Com 18 anos, se destacou ao apitar o primeiro Copão Kurt Meinert (competição de futebol amador de Joinville), em 1977, ano em que ele entrou para a Liga Joinvilense de Futebol e com o salário ajudou a pagar os estudos. A partir daí, os seus sonhos começam a alçar voo e a se tornar realidade. Paralelamente atuou como auxiliar técnico do JEC entre os anos 80 a 85.
Mas foi na atividade de árbitro, por mais de 40 anos consecutivos, que ele descobriu a grande paixão da sua vida. Sempre foi destaque nas importantes competições nacionais e internacionais que apitou. “Só não cheguei à FIFA por causa do meu peso”, lamenta. Mesmo assim, acumula inúmeros jogos internacionais no seu currículo.
Em 1999 apitou a final no Mineirinho entre Miécimo (RJ) e Atlético (MG) para quase 30 mil pessoas, o maior público do futsal mundial. Recebeu o troféu como o melhor da quadra, concorrendo inclusive com os melhores atletas do Brasil, que participaram daquele jogo. Contrastando com a alegria daquele dia, Ideraldo lembra com emoção o drama paralelo que viveu com a doença da mãe, internada na UTI de um hospital, em Joinville. Ela faleceu no dia seguinte.
Mesmo diante das dificuldades, no início da carreira, o menino pensava em crescer na vida e nunca deixou de estudar. Formou-se professor de educação física. Não esqueceu seu lado solidário. Entre outras formas de ajuda comunitária, colaborou voluntariamente com uma instituição filantrópica de Joinville, durante três anos, orientando os cegos e desenvolvendo práticas esportivas específicas. Foi pioneiro nesta área em Santa Catarina.
Durante muitos anos Ideraldo Marcos foi considerado o árbitro número um do futsal brasileiro. Mesmo contra todas as probabilidades (no auge da carreira chegou a pesar 146 quilos), tornou-se referência para várias gerações de arbitragem. Em meio à luta contra a balança, destacou-se com desempenho físico surpreendente e pelo elevado número de acertos nos jogos que apitava.
Em alguns momentos, enfrentou torcedores raivosos, inconformados com a derrota do seu time. Sentiu-se ofendido várias vezes com insultos, por conta da obesidade e pela cor da sua pele. “Em muitos lugares isso aconteceu, mas no Rio Grande do Sul foi mais forte”. Não guardou mágoa, preferiu levantar a bandeira da igualdade, contra a intolerância e a discriminação racial, quando presidiu o Kênia Clube, durante seis anos.
De sorriso fácil, discreto, porém firme nas suas decisões em quadra, de maneira geral conquistou o respeito dos jogadores, dirigentes e torcidas, em todos os cantos do Brasil. A arbitragem do Ideraldo era garantia de segurança e justiça para o espetáculo, atestam os desportistas. Foi o primeiro árbitro joinvilense a fazer parte do quadro da Confederação Brasileira de Futsal, além de atuar como professor de arbitragem. Foi responsável pela formação de mais de 500 profissionais.
Em 2018, Ideraldo foi hospitalizado às pressas. Descobriu que os seus rins deixaram de funcionar. Segundo ele, naquele dia, o jogo pela sobrevivência ficou tenso, totalmente fora de controle e nada mais dependia dele. Recebeu o diagnóstico que o único recurso para mantê-lo vivo seria o início imediato do tratamento por hemodiálise na Fundação Pró-Rim.
Mais uma vez topou o desafio. Fez da vontade de viver o bem maior e o seu principal objetivo, durante todos os dias que se seguiram. Garante que encontrou forças no amor da família e dos amigos, que o abraçaram neste momento de extrema fragilidade. “A doença uniu mais a família e me fez ver que tenho inúmeros amigos que realmente gostam de mim. Nunca havia me atentado para isso”, constata.
O Dr. Marcos Vieira, presidente da Fundação Pró-Rim e médico que atende ao Ideraldo, falou sobre o paciente: “Lembro dele, eu ainda adolescente e ele apitando os jogos no Ginásio Ivan Rodrigues. Agora o vejo na hemodiálise. Logo associo a figura do Ideraldo a um sorriso largo e uma linda família sempre ao seu lado. A luta e a superação permanente são marcas dele. Quer dizer, ele carrega as principais características das pessoas que amam o esporte. Desejo muito amor, qualidade de vida e saúde para o Ideraldo, esta personalidade catarinense, que orgulha Joinville” descreve o presidente da Fundação Pró-Rim.
Ideraldo Marcos não economiza palavras de gratidão. “A Pró-Rim é um centro de referência no Brasil para tratamento renal. Agora, descobri que estou seguro aqui e muito agradecido aos profissionais excelentes, em todos os setores. Eles salvaram a minha vida” reconhece.
Depois de um ano e dois meses de hemodiálise, ele agora pensa na possibilidade de entrar na lista de espera para realizar o transplante no próximo ano. “Para isso, preciso melhorar bastante a minha saúde, mas estou determinado a dar este passo e fazer o procedimento que vai me trazer mais qualidade de vida. O pessoal da Pró-Rim me incentiva neste sentido. Tudo vai dar certo”, acredita o mestre da arbitragem.
O Diretor de RH da Fundação Pró-Rim e auditor da Federação Catarinense de Futebol, advogado Maycon Truppel Machado, vê em Ideraldo muitas qualidades como profissional e como pessoa. “Recordo-me dele como árbitro de grandes partidas do futsal nacional e internacional. Depois o conheci pessoalmente na Liga Joinvilense de Futebol, onde trabalhamos juntos. Eu como Presidente da Comissão Disciplinar e ele Coordenador de Arbitragem”.
Maycon define Ideraldo como “uma pessoa de trato fácil, especial, de uma alegria contagiante, uma referência para o esporte de Joinville”. Segundo Maycon, “a importância da prevenção à doença renal se fortalece nestes momentos em que vemos personalidades, até mesmo do esporte, necessitando de hemodiálise. A doença pode acometer qualquer um. Agora, nesta condição, ele também abraçou a causa em defesa dos pacientes renais”, conclui o advogado.
O ex-atleta e agora supervisor do JEC/Krona, James Veiga, tem boas recordações do Ideraldo:
“Tive o privilégio de inciar a minha carreira nas categorias de infantis e o Ideraldo já apitava os jogos. Além de ele ser um excelente árbitro, também era um educador dedicado. Contribuía muito na formação do cidadão e do atleta. Elogiava e também orientava quando necessário. Isso só evidencia a pessoa do bem que ele é e que sempre honrou o esporte e a profissão como árbitro. Já na minha carreira adulta também tive o privilégio de jogar com ele atuando. A gente sabe que a arbitragem de futebol é muito delicada, difícil e ele conseguia conduzir com muita qualidade, transparência e honestidade, assim como ele faz na sua vida pessoal. Uma grande pessoa e um grande amigo que o esporte me deu. Por fim, quero dizer que o Ideraldo como árbitro possuía a virtude de manter todas as equipes satisfeitas e tranquilas com o trabalho dele”.
Enquanto aguarda pelo transplante, Ideraldo acompanha o futebol na condição de expectador. Visita e recebe amigos, além de torcer pelo sucesso dos colegas de profissão. Ele apoia o árbitro de vídeo, a grande novidade do futebol. Mas acredita que esta atividade vai trazer resultados mais positivos somente a partir da agilidade na análise dos lances polêmicos. “Há muita demora provocada pela insegurança dos profissionais. Isso tira a emoção e deixa o futebol chato”, opina.
Qual o jogador de futsal que mais incomoda a arbitragem? Ele sorri e responde imediatamente: “o Falcão, é lógico. Ele tem a mania de querer mandar na arbitragem Se deixar, ele apita o jogo”, brinca e acrescenta: “Apitei jogos do Falcão desde quando ele era menino de 14 anos”. Mas destaca que sempre foram bons amigos, tirando algumas discordâncias passageiras. Por outro lado, reverencia o ex-jogador Manoel Tobias. “Foi o atleta mais gentil e respeitoso que eu conheci”.
Quais os projetos de vida para o ex-árbitro, agora aposentado e com 61 anos? Ele nem pensa para falar: “quero publicar um livro de poemas e poesias. Tenho centenas de textos, prontos. Gosto muito de escrever. É outra paixão que sempre me acompanhou. Vejo nessa atividade prazerosa uma maneira de deixar a vida mais leve, mais romântica”, diz sorrindo, ao mostrar vários cadernos com os originais escritos à mão.
Leo Saballa
08/11/19
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